Lic. Paulo César Rezende de Carvalho Alvim
Gerente de la Unidad de Innovación y Acceso a la Tecnología del SEBRAE Nacional
No Brasil, micro e pequenas empresas – MPEs são classificadas em função do faturamento anual, valor inferior a US$ 1 milhão. Nessa categoria tem-se 4,5 milhões de MPEs formais que contribuem com cerca de 20% do produto interno bruto- PIB e 3% das exportações brasileiras, sendo responsável por 56% dos empregos. A esse contingente se somam 4,1 milhões de pequenos proprietários rurais, 8 milhões de artesãos e 12 milhões de empreendimentos informais ( industriais, comerciais e de prestação de serviços).
As MPEs brasileiras apresentam entretanto um conjunto de dificuldades em função de sua diversidade e quantidade, como as dificuldades de acesso a informação, conhecimento, tecnologia, mercado, serviços financeiros, entre outros; a qual se somam as questões de burocratização, legislações e tributações inadequadas, que criam um ambiente inadequado para empreender, que trata desiguais de forma igual e gera como resultado uma alta taxa de mortalidade das MPEs – 60% em 3 anos.
MPEs precisam ser competitivas
Neste contexto de competição acirrada ao qual se somam as dificuldades de um ambiente inadequado, torna-se necessário promover ações para que as MPEs se tornem competitivas e sustentáveis.
O Serviço brasileiro de apoio às MPEs – SEBRAE é um serviço social autônomo que desenvolve ações de apoio às MPEs atuando no sentido de construir um ambiente mais favorável para empreender e desenvolvendo um conjunto de ações integradas, em parceria com mais de 1.000 instituições, no sentido de levar informação e conhecimento para às MPEs nas áreas de mercado, produção, gestão e relacionamentos.
Dentre estas ações o Sebrae apóia o acesso à tecnologia e o incremento da capacidade inovativa das MPEs para melhorar e desenvolver produtos e processos produtivos, com ganhos de produtividade, qualidade e inovação nas empresas.
O papel do design no apoio à competitividade das MPEs
O design é fator chave na alavancagem da inovação das empresas, onde agrega valor a produtos e serviços das MPEs.
Design em seu sentido amplo com uma visão estratégica no processo de desenvolvimento de produto e processo produtivo.
No caso brasileiro, apesar do desenho industrial ter se iniciado a mais de 40 anos na Escola Superior de Desenho Industrial – ESDI no Rio de Janeiro, só nos anos 80, se iniciaram as atividades de massificar o design no ambiente empresarial, com o desenvolvimento no CETEC – Centro Tecnológico de Minas Gerais, de trabalhos de design com foco em adequação de produtos de pequenas indústrias. Esta experiência conduzida por Barroso, além de levar o design para a realidade da pequena empresa, demonstrou a oportunidade da prestação do serviço externo à empresa – chave para levar o design às MPEs, além de ter servido de base para a constituição do Laboratório Brasileiro de Desenho Industrial – LBDI, apoiado pelo CNPq – Centro Nacional de Pesquisa, e que foi a base e modelo para o processo de difusão do design nas empresas de pequeno porte.
Outra iniciativa relevante que contou com apoio do Programa de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico – PADCT, foi a implantação do núcleo de informação de design no Departamento de Tecnologia da Federação das indústrias do estado de São Paulo – FIESP no início dos anos 90.
Este conjunto de investimentos, somado ao número de instituições de ensino superior que atuavam na área de design, serviu de base para o lançamento em 1995 pelo Ministério da Indústria e Comércio – MIC do Programa Brasileiro de Design – PBD, parte integrante do esforço de promover a competitividade do parque produtivo nacional.
O PBD mobilizou um conjunto de entidades públicas e privadas, profissionais de design e empresas, dando visibilidade ao esforço desenvolvido na área por empresas e setores, como nas áreas de moda, cerâmica, jóias e móveis, sendo de se destacar a multiplicação de prêmios de design que passou a ocorrer em todo o país.
O Sebrae foi parceiro do PBD desde o início, apoiando eventos, prêmios e exposições.
Hoje o esforço e os resultados do movimento do design no Brasil podem ser vistos no site www.designbrasil.org.br .
E como indicadores de esforço podem ser destacados os mais de 100 cursos superiores de design existentes atualmente, os grupos de pesquisa em design ativos, o número de entidades profissionais, o número de escritórios de design atuantes no país e o número de prêmios internacionais ganhos por designers brasileiros.
E o que o Sebrae vem desenvolvendo no apoio ao uso de design pelas MPEs
Desde os anos 80 o Sebrae vinha apoiando de forma pontual, por meio de ações de consultoria tecnológica, o uso do design nas MPEs. De forma mais estruturada e como forma de desestimular o uso da cópia, em parceria com o Senai-Cetiqt, desenvolvia a disseminação por meio de desfiles e distribuição de cadernos de tendências para as pequenas confecções, nas coleções de outono-inverno e primavera-verão.
Com o lançamento do PBD, ampliou-se o apoio a eventos, como exposições, cursos e oficinas, no sentido de desmistificar o design para as MPEs.
Entretanto, em pesquisa realizada por encomenda do Sebrae pelo Instituto Nacional de Tecnologia – INT, identificou-se dois problemas concretos:
- a percepção da importância do design pelas MPEs, mas o reconhecimento que era algo distante para a ser usado por este porte de empresa; e
- a dificuldade do entendimento de como levar o design para as MPEs no âmbito do Sistema Sebrae – ausência de interlocutores internos.
Esse diagnóstico levou o Sebrae a lançar em 2001 o Programa Via Design, com o objetivo de fazer as MPEs terem acesso e usarem as ferramentas de design para agregar valor a seus produtos e serviços.
Para tanto foram construídos três grupos de ações baseadas em:
- formação da cultura do design nas MPEs;
- estruturação de uma infra-estrutura focada no apoio ao uso do design pelas MPEs;
- apoio direto às MPEs no uso das ferramentas de design.
Para a formação da cultura do design nas MPEs se ampliaram os apoios a seminários, exposições, cursos e publicações, no esforço de mostrar às MPEs que o design é uma ferramenta que pode ser utilizada por essas empresas para agregar valor a seus produtos e serviços. O Sebrae continuou ainda dando seu apoio permanente às iniciativas do PBD.
Nas ações estruturantes merecem ser citadas:
- apoio a contratação de gestores de design para atuarem nos 27 Sebraes UFs, após concurso público nacional que mobilizou cerca de 3000 profissionais;
- apoio a cerca de 100 núcleos e centros de design focados no atendimento de demandas das MPEs e de artesãos, por meio de edital público, e que teve cobertura em todas as unidades da federação brasileira e um investimento de cerca de US$ 10 milhões, sendo cerca de 60% de recursos do Sistema Sebrae;
- apoio a construção de redes estaduais de design – sendo que até o momento já foram constituídas nos estados do RS, PR, BA, SE e PE;
- parceria com o CRIED da Itália na capacitação em design estratégico de 90 gestores de design; e
- apoio à implantação de 19 incubadoras de empresas de design.
Por fim, no apoio direto ao design, deve ser mencionado o conjunto de oficinas de design nos setores de confecções, móveis, calçados, jóias, transformados plásticos e artesanato, em parceria como Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior -MDIC, Senai , IBGM, entre outros; o desenvolvimento de cadernos de tendências, divulgados em workshops em arranjos produtivos locais de confecções, móveis, calçados e jóias; consultorias tecnológicas de design e mais recentemente, em parceria com a Associação Brasileira de Design de Embalagem – ABRE, a oferta de consultoria em design de embalagem.
Este conjunto de iniciativas já vem atendendo mais de 12 mil MPEs por ano, em consultorias, oficinas e clínicas tecnológicas, além de atender mais de 18 mil pessoas envolvidas diretamente no processo produtivo, participantes de eventos de design com o apoio do Sistema Sebrae, segundo os dados de 2004.
Considerações finais
O mercado de design para as MPEs é uma grande oportunidade para a comunidade de profissionais atuantes nesta área e o Sebrae vem atuando aproximando e como animador desta relação oferta – demanda, como forma de apoiar a competitividade das MPEs, com resultados concretos de aumento de faturamento das empresas, ganhos de produtividade, lançamento de novos produtos e inserção competitiva em novos mercados.
Mas o desafio é cada vez maior, daí a importância da parceria com quem faz o design no Brasil – organizações e profissionais.